Pr. EDILSON CARLOS
Analisemos o triste fim
duma geração que chegou às portas de Canaã, e que, devido a sua covardia,
morreu no deserto. Para aqueles que não estão familiarizados com o termo
bíblico Canaã, digamos que ele se refere a uma terra que Deus havia prometido
aos Israelitas, para que nela eles pudessem habitar.
Após
o Seu povo ter enfrentado o deserto, Deus lhe ordenou que entrasse na terra. A
tarefa era simples. Bastava tão-somente o povo confiar na direção divina para
vencer os cananeus. Desmotivado pelo temor, o povo pediu a Moisés que enviasse
espias a terra: “Então, todos vós vos chegastes a mim e dissestes: Mandemos
homens adiante de nós, para que nos espiem a terra e nos deem resposta por que
caminho nós devemos subir a ela e a que cidades nós devemos ir.” (Dt 1. 22.).
Por detrás desse pedido, havia o verdadeiro motivo: a maioria dos israelitas
não confiava em Deus.
Dois
detalhes são importantes: Além de não confiar em Deus, o povo tinha medo. Os
temores devem ser dominados; e, quando não são, podem causar uma catástrofe,
assim como causaram a Israel. Os temores de Israel existiam por uma questão
cultural e mental. O período de escravidão deixara marcas terríveis, e o
conceito de libertação ainda não era aceito. Os israelitas estavam dispostos a
trocar sua liberdade por comida egípcia.
Conforme
a orientação divina, eles deveriam entrar na terra e tomar posse dela.
Entretanto, com o argumento de montar uma estratégia de invasão, o povo pediu
permissão para espiar a terra. Deus permitiu que os espias fossem enviados: “E
falou o Senhor a Moisés, dizendo: Envia homens que espiem a terra de Canaã, que
eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um
homem, sendo cada qual maioral entre eles.” (Nm 13.1-2.). A missão era
importante. Estavam presentes os líderes.
Moisés
deu a orientação acerca do caminho por que os espias deveriam seguir e acerca
da terra e do povo que eles deveriam espiar: “... e vede que terra é, e o povo
que nela habita; se é forte ou fraco; se pouco ou muito.” (Nm 13.18.). Moisés
queria um relatório completo, pois todos estavam diante de novos desafios.
Não
há mal em criar uma estratégia para vencer. Numa guerra, as estratégias são
fundamentais para diminuir as dificuldades. Diminuindo as dificuldades, as
alternativas poderão ser postas em prática. Elas fortalecem o ataque, pois, através
das mesmas, se faz uma correta avaliação do adversário; com isso, são evitadas
as surpresas.
O
fracasso já estava prefigurado, pois, no coração daquele povo, a pré-disposição
contrária aos desígnios divinos demonstrava isso. Os israelitas não criam em
perspectivas futuras. Queriam continuar como escravos. Criar uma nova
perspectiva é importante para lançar-se em novos projetos. Deus estava chamando
o povo para uma nova experiência. O Senhor queria dar a ele uma nova vida.
A pré-disposição tende a fechar a porta para
outras possibilidades. Quando isso ocorre, mesmo que seja demonstrado, em todos
os sentidos, o benefício que poderá advir da nova orientação, mesmo assim,
diante da nova porta que se abre, o recalcitrante preferirá ficar no seu estado
de inércia, ou retornar ao velho estado.
É
preciso dar primazia ao caminho por que Deus está conduzindo. Existem lugares
excelentes, aos quais Ele quer nos conduzir. Tudo vai depender de confiarmos
nEle e seguirmos a Sua orientação.
Após
retornarem da missão, os espias tinham a responsabilidade de passar para o povo
palavras de incentivo, de encorajamento. Mas, para surpresa de todos, ao invés
de relatarem aquilo que de bom a terra possuía, eles a difamaram. A atitude de
dez dos espias foi suficiente para provocar instabilidade em meio à multidão.
Eles concluíram que os moradores da terra eram pessoas valentes e que os
israelitas não poderiam vencê-las.
Essa
conclusão estava totalmente desassociada da verdade, pois quem estava
garantindo a vitória era o Senhor; e o resultado do confronto não dependeria
das condições do inimigo; pelo contrário, dependeria unicamente do Senhor Deus:
“Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei
exaltado sobre a terra. O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o
nosso refúgio.” (Sl 46.10-11.). O argumento da plena confiança em Deus foi
feito por Josué e Calebe: “Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e
disse: Subamos animosamente, e possuamo-la em herança: porque certamente
prevaleceremos contra ela.” (Js 13. 30.).
Enquanto o povo estava disposto a voltar a ser escravo, Josué e Calebe
estavam dispostos a enfrentar os inimigos.
Existem
certas vitórias que dependem de como está se olhando para o adversário. Ele
será grande e forte ou pequeno e fraco. Depois de uma prova, alguns alunos
falam que ela estava fácil; outros, que ela estava difícil. Tudo depende do
quanto um ou outro se preparou para a prova. Com os problemas é a mesma coisa.
Existem os que estão vendo uma marola como se estivessem vendo um tsunami.
Os
dez espias falaram ao povo: “Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque,
descendente dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, assim
também éramos aos seus olhos.” (Nm 13.33.). Eles se diminuíram perante o
adversário. Quando fizeram isso, além de esgotarem a força psicológica de
vencê-lo, eles neutralizaram o agir de Deus. Em contrapartida, com um pensar
diferente e confiando em Deus, Josué e Calebe falaram: “Tão-somente não sejais
rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo desta terra, porquanto são eles
nosso pão: retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais.”
(Nm 14.9.).
Ninguém
se engane: na igreja há duas gerações: a dos covardes, os quais dizem que a
obra vai parar; e a dos valentes, os quais estão dispostos a lutar e vencer.
Na vida,
sempre se terá a opção de vencer ou ser vencido. Mas, em Cristo Jesus , sempre
seremos vencedores: “Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores,
por aquele que nos amou.” (Rm 8.37.).
Deus
não gostou da atitude dos espias, nem da atitude do povo. O resultado foi o
pior possível. O povo foi conduzido ao deserto, para que perecesse: “Neste
deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram
contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos e para cima, os que dentre
vós contra mim murmurastes.” (Nm 14.29.). Aquela geração foi condenada a
perecer no deserto. Chegou perto da grande vitória, mas sua apatia e sua
incredulidade fizeram com que não alcançasse a promessa: “Porém, quanto a vós,
os vossos cadáveres cairão neste deserto.” (Nm 14.32.).
A
decisão de confiar em Deus continua sendo a mais sensata. A Bíblia está repleta
de histórias de pessoas que, por confiarem em Deus, foram bem-sucedidas. No
Salmo 125, está escrito: “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião,
que não se abala, mas permanece para sempre.”. Não foi fácil para Abraão confiar
em Deus, no tocante ao sacrifício do seu filho no monte Moriá. Também não foi
fácil para Gideão enfrentar um exército poderosíssimo somente com trezentos
homens. Nem foi fácil para Moisés confiar em Deus diante do mar vermelho.
Confiar em Deus é lhe estender uma das mãos, é deixá-lo conduzir: “Confia no
Senhor e faze o bem, habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado.”
(Sl 37.3.).
As
nossas lágrimas e os nossos jejuns não comovem o nosso Deus; a nossa confiança,
todavia, comove-o sobremaneira.
Quase
todos os israelitas, bem como os dez espias, os quais não confiaram em Deus,
morreram no deserto; Josué e Calebe, no entanto, não só foram preservados, como
entraram na terra prometida. A ordem divina, a de que Israel permanecesse no
deserto por um período de 40 anos, foi cumprida. Para cada dia que os espias
passaram em Canaã espiando a terra o povo passou um ano no deserto: “Segundo o
número de dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, por cada dia um ano,
levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos...” (Nm 14.34.).
Devemos
confiar na providência divina. É muito fácil confiarmos quando temos todos os
recursos disponíveis. Confiarmos, contudo, quando nos falta tudo, só mesmo pela
fé. Para aqueles que estão cansados, assim diz a Palavra do Senhor: “Dá esforço
ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.” (Is 40.29.).
Devemos continuar confiando, pois o nosso objetivo é a Canaã celeste; caso
contrário, seremos semelhantes àqueles que morreram no deserto porque não
tiveram coragem para enfrentar os desafios e tomar posse da vitória.
As
nossas atitudes são determinantes das nossas vitórias ou derrotas em meio às
lutas. Quais têm sido as nossas atitudes na obra de Deus? Temos nos dedicado ao
máximo? Devemos ter cuidado, pois Deus pode levar-nos ao deserto!
“Não
temas, porque eu sou contigo, não te assombres, porque eu sou teu Deus: eu te
esforço, te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.” (Is 41. 10.).
Pr. EDILSON CARLOS
Debatedor da rádio Melodia
Professor na turma Bacharel em Teologia no Logos
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